domingo, 13 de janeiro de 2013

O Beijo de Alice Parte I


Nove horas da manhã, sábado e Maria acorda bem, ela se levanta e vai fazer algo para tomar café, pega o bule e coloca água para ferver, enquanto a água está a esquentar ela vai preparando o pó em outro recipiente e já adoça para não ter o trabalho depois de coar o seu café. Ela observa o calor formar bolhas dentro do bule onde a água esquenta e sua mente começa a fazer algumas associações a sua vida.
O tempo para em frações de segundo, sua mente idealiza naquele momento seu estado de espirito, percebe que sua idade já não é mais eufórica e que muito do que poderia ter vivido, não será mais possível diante das decisões que tomou, sabe que não tem porque se arrepender, mas também pensa que era muito imatura e viveu muito com base em seu coração, não analisou os lados negativos, embora quando mais jovem fosse extremamente medrosa e pessimista, sempre acreditou ficar sozinha e não ter alguém que a amasse a ponto de findar os dias ao seu lado, hoje já seria um alivio não ter mais ninguém.
Percebeu também que muito do que hoje acontece em sua vida foi devido a não ter percebido o quanto seu prazer e suas escolhas também deveriam ser consideradas e partilhadas em sua relação que hoje não mais a mesma, se é que ela pode chamar de ralação a forma como vive.
Ela não deixou em nenhum momento de acreditar no amor, mas para ela hoje o amor tomou outra forma, ele é importante quando iniciado com ela mesmo.
O bule treme em cima do fogão, ela volta a sua realidade e percebe que precisa coar seu café ou logo mais deverá por mais água para ferver, pega um pano e no cabo do bule ela vira a agua sobre o pó que muda de forma exalando um aroma fantástico, daqueles que mesmo que não gosta do sabor do café ficam estonteados.
Percebe a medida que a água toma cor escura que sua vida passou pelo mesmo processo, onde a medida que a água quente encorpa o pó e faz com que seu aroma sobe de forma gasosa até sua narina, da mesma forma como o calor de seus problemas passaram pelo filtro do seu coração tornando assim aquele pó que estava em suas veias trouxessem para o seu exterior tudo aquilo que escondia de si mesma e que a tornava ainda mais bonita, quanta dor, como devagar foi esse processo, e quantas perdas teve que sofrer para perceber que a decisão de viver era sua.
Pega um saco de biscoitos e senta em seu sofá, liga a televisão e começa a usufruir daquele delicioso liquido preto que desce em sua garganta como néctar, faz sua primeira refeição de forma vagarosa e esvazia de sua mente todos os desejos, sonhos e pensamentos irrelevantes.
E sem perceber termina seu café se deita e cai no sono...

                Que caminho longo, o sol arde muito mas o aroma dos jasmins me fazem ter uma calma que nunca experimentei, gostaria apenas que houvesse uma nuvem para aliviar esse calor que me faz desejar uma sombra para descansar.
                Vejo a minha frente um homem de branco que me chama em sua direção, ele quer me dizer algo, é como se toda a minha estrutura estivesse totalmente reluzente, sinto uma energia absurda sair de dentro do meu coração, e por fora percebo vestir um lindo vestido branco, mas por algum motivo não muito claro está manchado nas extremidades como se muita lama estivesse ao meu caminho, o que é difícil de explicar uma vez que o calor é tanto, a estrada é árida e sem sinal de chuva ou poças que possam justificar essas manchas.
                Olho através do borrão daquele homem que se mantem sereno a minha frente com as duas mãos estendidas em minha direção, ele ressoa como um sussurro para que eu vá ao seu encontro, em uma situação normal deveria temer tão imagem, mas não consigo sentir medo, ele carrega uma paz que é complexa para explicar.
                Deixo me levar como se flutuasse e ouço um som que vem dos arbustos antes nem percebidos por mim, como se ninfas estivessem cantando e tocando harpas ao meu redor, adentro uma luz tão forte que sinto tudo a minha volta escurecendo devagar e o homem que antes era desforme a minha frente vai tomando uma forma realmente mais linda, tão linda que se torna ainda mais difícil descrever.
                Aproximo-me desse lindo rapaz e percebo que todo aquele ardor desaparece e uma brisa fresca nos envolve, o delicioso cheiro de jasmim silvestre fica mais intenso, e tudo fica ainda mais magico, ele me abraça devagar como se fossemos amigos a muitos anos, ele segura minhas mãos olha em meus olhos e me diz:
                “Graciosa, há quanto esperei para que pudesse vir ao seu encontro para dar-te a oportunidade de observar a exuberância de tua benevolência, és agraciada por ser abençoada com tamanha humanidade e hoje evoluíste há um nível tão grandioso que podes inicia a tua missão”.
                Não consigo entender, quando tento perguntar o que esta acontecendo, milhões de imagens rodam a nossa volta, todas são como seleções de momentos muito bons e muito ruins que já vivi, de uma forma cada vez mais acelerada a ponto de me perturbar percebo que estou dentro de um túnel que me levaria para o céu mas que não me tira do lugar e isso me deixa bêbada como se fosse tudo uma loucura de minha cabeça, Onde estou é a única pergunta que eu faço...

Maria olha o relógio e são quinze horas, não entende como pode dormir tanto em um sábado, olha a sua volta e sua casa está uma balburdia, ela se levanta quase sem forças e não se lembra de nada que aconteceu, fica meio revoltada em estar nessa vida e deixa seu corpo alimentar suas ideias.
Sente uma vontade absurda de ter alguém com ela ali, queria um carinho, deseja um beijo quente e lembra-se que havia um rapaz que estudou com ela, tenta ligar para ele e saber o que ele está fazendo.
Ele atende e seu alô a deixa totalmente eufórica, sua mente entra em uma viagem absurda e muito quente, a medida que conversam ela fecha os olhos e sente como se ele estivesse ali bem ao seu lado a deslizar seus lábios por sua nuca e fazendo com que sinta cala frios por todo seu corpo, sente aquelas mãos fortes e quentes desabotoar sua camisa de seda e entrar pelo seu seio acariciando de forma excitante e prazerosa e  sem pensar muito no que estão conversando ao telefone ela o convida a fazer uma visita.
Ele se sente totalmente impotente quando ele diz que não poderá, pois está de partida para uma viagem de negócios e que precisa terminar de colocar em ordem toda a sua agenda e malas.
Ela pede desculpa pelo inconveniente, mas fica muito feliz quando ele apenas informa que em seu retorno gostaria de marcar um café para conversarem melhor e poderem ficar um pouco juntos, já deixando claro quais eram as intensões do convite feito a pouco por Maria.
Ela desliga o telefone, liga o som e começa com a faxina em sua casa, não pensa em fazer nada, além do mais Carlos disse que voltaria hoje para casa, não que isso a anime muito, pois sabe que ele irá chegar, sentar em sua poltrona, pegar seus livros de direito e se dedicar em mais uma defesa, e ela mais uma vez irá ficar sentada no sofá olhando ele e pensando como ele pode tratar sua vida da mesma forma como trata seus casos, como pode justificar toda a monotonia de seu casamento com argumentos para defender as ideias loucas que passam na cabeça dele.
Ela percebe que se casou com um homem racional com pouquíssimos sentimentos, que jura amor eterno a ela, mas que vive diversas vidas em sua aventuras sexuais já ignoradas por ela.
Quinze para as vinte e duas e nada de Carlos, ela liga para ele e não fica surpresa quando ele pede desculpas mas que não poderá voltar para casa, e ainda a incentiva para ligar para uma de suas amigas para saírem juntas a fim de que Maria não fique em sua monotonia.
Ela desliga o telefone com um beijo e um te amo, que ainda não consegue definir se é rotina ou amor verdadeiro e liga para Kelly, sua melhor amiga.
Kelly uma mulher independente, sempre em busca de aventura que tem muito medo de todas as frustrações que já causaram em todas as suas relações, certa de que não pode viver um amor daqueles de cinema mas que presa todos os sentimentos em que vive, fala para ela que não poderá sair aquela noite, pois irá fazer um trabalho como garçonete um restaurante bem conceituado da cidade, mas pede para que ela ligue para Thalita que vai sair com sua namorada para uma baladinha nova no centro.
Maria fica impressionada com aquilo, mas decide que não é uma má ideia, sair um pouco do convencional e conhecer um novo ambiente e liga para Thalita, que é uma grande amiga dela,  mas como ela as vezes é um pouco complicada fica meio temerosa.
Porém essa noite ela não teme, algo dentro dela diz que será uma grande noite e que muitas coisas pode acontecer e fica até empolgada, fica ainda mais feliz quando Kelly manda uma mensagem dizendo que irá encontrar as duas no centro para de lá ir para o restaurante, mas antes ela deseja cumprimentar as amiga.
Maria corre para o banheiro, toma um banho gostoso, veste a sua melhor langerie e não se preocupa muito em que roupa vai vestir, prende seu cabelo, faz uma maquiagem basica e usa um dos perfumes que mais gosta, da um beijo em sua gata e fecha a porta.
Sera que realmente aquela noite será tão especial como ela imagina ser ?  


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